Algumas palavras...

"Tal como o orvalho que surge e desaparece,
assim foi a minha vida
Mesmo o esplendor da fortaleza de Osaka
É um sonho dentro de um sonho."


Toyotomi Hideyoshi; um dos três líderes da unificação do Japão

9 de julho de 2011

O Sofisma da Dívida

É cult ser do movimento negro e gritar por aí que a sociedade deve recompensá-los, mesmo que para isso ela tenha que abrir mão de sua voz e seus direitos, igualmente legítimos.
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Chegou ao meu conhecimento um determinado blog que, assim como outros milhares, visam expor e analisar fatos e temas correntes, porém, é claro, da perspectiva “revolucionária” da coisa. O que é comum na web. Ao ler seus artigos em nada me surpreendeu em relação a tantos outros que já li no seu modo, iníquo e vazio, de transmitir suas idéias. Mas este, “Escreva Lola Escreva”, foi além. A senhora Aronovich utiliza uma velha arma argumentativa pueril e falsa, esperando assim, tentar dissuadir o autor de um comentário que, na verdade, levantou uma questão que põe em xeque o discurso da blogueira.




Intimidados por estas desculpas reparacionistas, a grande população, sem saída, é obrigada a aceitar que é ré de um crime dos seus antepassados; e mais, sob o escudo-clichê do “contexto”, a autora do blog tenta derrubar o questionamento de um internauta pelo único viés – aparentemente irrefutável – que os movimentos sociais se sustentam. Será mesmo?

Primeiro, os aspectos técnicos: esconder-se (ou “embasar”) seus argumentos pelo artifício do contexto é contraditório, impreciso, dissimulado e, principalmente, demonstra a ignorância dos fatos históricos pela dona Aronovich. Ogden e Richards dizem: “contexto é um conjunto de entidades (coisas ou eventos) correlacionadas de certo modo; cada uma dessas entidades tem tal caráter que outros conjuntos de entidades podem ter os mesmos caracteres e estar ligados pela mesma relação; recorrem quase uniformemente” – é claro, creio eu, que a Sra. Aronovich deve estar ciente disto.

Mas o uso deste tipo de contexto para escorar esta afirmação, neste caso, peca por ser um recorte sincrônico de uma época privilegiada por seus interesses, deixando de lado outros fatos, anteriores e posteriores, do assunto. Este uso é comum na crítica literária, em que o período sincrônico, ou os eventos, é que age sobre o produto (a obra em si), produzindo-o e estabelecendo relações de características; e, mesmo quando o contexto analisado da obra é posterior ao da produção, ainda sim o objeto já é perpetuado e finito, e é ele o determinante sobre os eventos, por isso sendo passível observar os efeitos causados pelo mesmo. Mas quando se trata de entidades transistóricas, estes parâmetros não são aplicáveis. Pois sempre há fatos anteriores, ou contextos (como queira chamar), que implicam no desencadeamento do próximo, e este ao próximo, ad infinitum, entrando numa continuidade de eventos que só torna realmente compreensível numa perspectiva diacrônica. Se a dona Aronovich quer valer-se apenas pela visão sincrônica, pois a tome. Mas será sempre falho por evidenciar apenas uma parte, e não a totalidade dos fatos. Todavia, se é por este aspecto que a senhora constrói seu sofisma, será por aí que vou desmenti-la.

Mas, afinal, qual contexto a autora se refere? A oração “o que é contexto” em seu blog nos dá um link para outro artigo que, entendo eu, trata-se da sociedade atual, segundo sua visão. Entretanto, o primeiro artigo, onde ela responde o comentário, ela busca apoio principalmente no período escravocrata. Portanto, vamos ver os dois.

Contexto histórico, a escravidão: o que nos ensina o livro didático é que a escravidão era uma atividade essencialmente branca, em que estes iam para África, capturavam os negros, traziam para serem comercializados e, depois de muita luta, conquistaram a liberdade, sendo vítimas da sociedade até hoje. Bem, esta história está correta em algumas partes; mas o pior é que deixa de lado uma lacuna importante de fatos sobre o assunto que os historiadores marxistas procuram ocultar ou desconversar.

Primeiro, a palavra “escravo” vem de “eslavo”, povo do leste europeu (a mesma etimologia está presente no inglês: “slave” (escravo) e “slavic” ou “slav” (eslavo)). Pois antes do auge da escravidão que conhecemos, já na Alta Idade Média os brancos europeus foram escravos dos africanos. Parece inacreditável? Mas os dados continuam: entre 1500 e 1800 os norte-africanos capturaram cerca 1 milhão a 1,25 milhão de loiros de olhos azuis, de acordo com o historiador Robert Davis, em “Christian Slaves, Muslim Masters”, em que se baseia o livro do jornalista Leandro Narloch. Este fato, curiosamente, não faz parte dos livros didáticos brasileiros. Somente por este dado já derrubamos o argumento da “dívida” que os brancos têm com os negros. Porém, há mais coisas que devem saber.

A escravocracia não foi um regime essencialmente branco. Faz parte da cultura de povos bélicos os vencedores escravizarem os vencidos, o que foi muito comum entre tribos africanas, como bem se nota:

“[...] a escravidão não foi introduzida na África pelos brancos europeus, mas, muito antes da chegada deles, pelos mulçumanos, entre os quais, por ironia, era grande o número de negros e mulatos; e, antes ainda do domínio mulçumano, escravizar as tribos vencidas já era costume generalizado entre vários povos africanos, que mais tarde vieram a vender os prisioneiros a árabes e portugueses.” (CARVALHO, 2006, p.112)

Entrando na questão do Brasil colônia, também há informações relevantes que a Sra. Aronovich deveria saber.  Um ex-escravo, José Francisco dos Santos, após obter sua alforria, começou a exercer a atividade profissional tornando-o conhecido como “Zé Alfaiate”. Mas o Zé Alfaiate, percebendo que costurar não era lucrativo ou, quem sabe, sua praia, voltou para África e tornou-se traficante de escravos, negociando levas e levas dos seus para vários continentes.

 Outra figura, bem mais importante, o “herói” dos marxistas e garoto propaganda dos comunistas brazucas, Zumbi, chefe do famoso Quilombo dos Palmares, possuía também seus escravos particulares e quem ousasse fugir dos seus domínios tinha seu destino traçado:

“Zumbi, o maior herói negro do Brasil, o homem em cuja data de morte se comemora em muitas cidades do país o Dia da Consciência Negra, mandava capturar escravos de fazendas vizinhas para que eles trabalhassem forçado no Quilombo do Palmares. Também seqüestrava mulheres, raras nas primeiras décadas do Brasil, e executava aqueles que quisessem fugir do quilombo.” (NARLOCH, 2009, p.45)

Contexto hoje: as questões dos movimentos de consciência negra e afins, infelizmente, perderam há muito tempo o sentido de sua busca: a igualdade de direitos. São apenas marionetes.  Instrumentos políticos de seus financiadores, como a Fundação Ford, que visam algo além do que ajudar a minoria discriminada. Minoria? Não é bem assim.

É do consenso geral, tanto da esquerda quanto direita-da-esquerda, que o Brasil é um país miscigenado e é quase impossível achar alguém que não tenha uma parte de seu sangue negro, indígena ou dos dois. A minoria queixosa e “credora da dívida” é a militante, a minoria revolucionária que, sentindo-se vitimizados pela sociedade de cinco séculos atrás, enxerga nas pessoas hoje os senhores de escravos do passado.

Os outros negros que não se engajam nesta luta contra o espantalho histórico são tidos como alienados (e por vezes ridicularizados). Este é o status quo do ambiente universitário brasileiro, por exemplo. Para estes estudantes, incitado por docentes provenientes do marxismo cultural, é cult ser do movimento negro e gritar por aí que a sociedade deve recompensá-los, mesmo que para isso ela tenha que abrir mão de sua voz e seus direitos, igualmente legítimos.

Não nego que existem casos de racismos de brancos contra negros, mas é ridículo não conceber que existe o inverso também.

Na cultura de massa vigente não é difícil vermos exemplos de tais atos deprimentes. É comum em filmes, séries, novelas utilizarem o termo pejorativo “branquelos”. Nas séries humorísticas norte-americanas, populares no Brasil, tornou-se banal os brancos sendo os “retardados” e desprezados em virtude a união dita “consciente” de negros. Não esqueçamos dos rappers - norte-americanos e brasileiros - que incitam suas músicas à violência e o rebaixamento dos "seus opostos". É claro que pesando na balança social pendemos sempre para a potencialização dos atos dos brancos contra os negros, e pela relativização dos atos de negros contra os brancos. É o resultado do bombardeio cultural que durou décadas.

Já passou da hora de nós "afro-descendentes" (o termo é demagógico e esquerdista, mas vai ele mesmo) pararmos com esta farsa de vitimismo e desejo de reparações. Os Estados Unidos e o Brasil não têm "dívida histórica" nenhuma conosco.” – opinião do Blog Dextra. Com certeza a militância gritaria contra ele palavras como “fascista” e “supremacista branco” etc., se não fosse o autor deste blog, segundo ele próprio, mestiço de avô negro e pai mulato.

É manifestação estúpida ou “babaca” (termo que a dona Aronovich usa) vestir uma camiseta com os dizeres “consciência branca” ou “100% Caucasiano” sim. Mas é igualmente “babaca” vestir o inverso. Pois se a desculpa usada é os anos de escravidão do passado, já vimos que não é bem assim que as coisas funcionaram.

 Ressalto que não quero conquistar direito nenhum de vestir uma camiseta deste tipo, ou anular um fato pelo outro.  Mas jogar o peso do passado exclusivamente sobre a grande sociedade, que não é só branca, por atos que os próprios antepassados negros praticavam, antes mesmo dos portugueses, é de uma hipocrisia desmedida. “Sem noção” é a senhora Lola Aronovich que se acha juíza da sociedade contemporânea, vislumbrando o mundo na sua perspectiva provinciana da história. Recomendo-a que, antes de achar que um determinado segmento da sociedade tem mais direitos do que outros, procure estudar o assunto profundamente, ao invés de dar palpites sustentados por livros de colegial politicamente corretos e distorcidos.

Se o leitor/a chegou aqui e ainda sim me julgou “preconceituoso”, infelizmente não posso fazer nada. Pois realmente és tu que, tomado pela ira ao ver ir abaixo toda sua convicção marxista desta parte da história, formou um pré-julgamento cego sobre minha pessoa. Peço que se acalme, reflita, procure as fontes e releia este artigo para verificar se eu sou mesmo quem pensa que sou.

Escolha: uma mentira politicamente correta ou os fatos como realmente são.


REFERÊNCIAS:


CARVALHO, Olavo de. O Imbecil Coletivo I: Atualidades inculturais brasileiras. São Paulo: É Realizações, 2006.
NARLOCH, Leandro. Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil. São Paulo: Leya, 2009.
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
 ALMEIDA, João Carlos de. A Farsa do Vitimismo Afro-descendente. In: Mídia Sem Máscara. Disponível em: <http://www.midiasemmascara.org/artigos/conservadorismo/11747-a-farsa-do-vitimismo-afro-descendente.html> Acessado em: 9 jul. 2011.
PONTES, Bruno. Consciência Negra: Um produto da Fundação Ford. In: Mídia Sem Máscara. Disponível em: <http://www.midiasemmascara.org/artigos/movimento-revolucionario/10510-consciencia-negra-um-produto-da-fundacao-ford.html> Acessado em: 9 jul. 2011.

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